A nova rodada da pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto.
Segundo o levantamento feito com mais de 200 deputados federais, 57% dos parlamentares avaliam que o governo Lula tem baixas chances de aprovar sua agenda no segundo semestre.
A inversão de expectativa, na comparação com o mesmo período de 2023, reflete o crescente desgaste na relação entre Executivo e Legislativo.
Na percepção do governo, esse é o ponto de maior alerta na pesquisa, pois as baixas chances de aprovação da agenda demonstram claramente como deteriorou o ambiente no Congresso.
Ambiente deterioradoFontes do governo ouvidas pelo blog reconhecem que a relação entre Planalto e Congresso vive seu pior momento desde o início do terceiro mandato de Lula.
A avaliação é que o ambiente para negociação de pautas se deteriorou nas últimas semanas — processo que já era visível antes mesmo das recentes crises envolvendo derrotas legislativas e tensões institucionais.
A pesquisa foi iniciada em maio, portanto a percepção negativa dos deputados antecede os episódios mais recentes de embate político.
A tendência, segundo fontes da articulação, é de agravamento desse quadro no segundo semestre.
Pontos fora da curvaMesmo com a aprovação no Senado nesta terça-feira (1º) do projeto que destina recursos do pré-sal para habitação popular, integrantes do governo tratam a votação como "ponto fora da curva".
Isso porque o texto também contempla interesses específicos do Congresso, como a permissão para novos leilões de exploração de petróleo — o que pode elevar a arrecadação e, consequentemente, liberar mais recursos para emendas parlamentares.
Na prática, a governabilidade dependerá cada vez mais da capacidade de conciliar interesses do Executivo com pautas que gerem dividendos políticos aos parlamentares, especialmente de olho nas eleições de 2026.
Preocupações com o calendário eleitoralAlém do desafio legislativo, o governo avalia que o debate eleitoral foi antecipado.
A derrota imposta ao Planalto na semana passada em votação no Congresso sobre o decreto do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) acirrou os ânimos.
E a decisão do governo de acionar o Supremo Tribunal Federal para contestar a constitucionalidade do decreto, que motivou o embate, é vista como parte de uma estratégia política para emparedar o Legislativo.
A leitura no Planalto é de que projetos com potencial de gerar ganhos eleitorais para Lula terão maior resistência no Congresso, sobretudo os que envolvam políticas sociais ou obras estruturantes.
CPMI do INSS amplia desgasteA instalação pelo Congresso da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os descontos indevidos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a CPMI do INSS, também deve contribuir para o clima de tensão.
A expectativa é que a comissão tenha forte presença de parlamentares da oposição, o que pode gerar mais desgastes políticos ao governo ao longo do segundo semestre.
Quadro de isolamentoO cenário atual reforça a percepção de que o governo entra na segunda metade de 2025 mais isolado no Congresso, com menor margem de negociação e maior risco de novas derrotas legislativas.
Nos bastidores, assessores admitem que o Planalto terá dificuldades para avançar com propostas estratégicas sem oferecer contrapartidas políticas ou orçamentárias ao Centrão.
A governabilidade de Lula, portanto, dependerá cada vez mais de arranjos pragmáticos e da capacidade de neutralizar o impacto de um Legislativo mobilizado por agendas próprias e pelo calendário eleitoral já em movimento.