O Instituto Butantan aguarda desde agosto de 2024 a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para iniciar uma pesquisa clínica da vacina contra a gripe aviária.
O imunizante monovalente tipo A (contra H5N1), desenvolvido pelo Instituto, mostrou eficácia em testes pré-clínicos, mas precisa evoluir à testagem em humanos.
Butantan antecipa mutação do vírus
Embora a gripe aviária não seja transmitida entre humanos, existe a perspectiva de que novas e mais resistentes cepas se desenvolvam, e pesquisadores alertam para o alto risco de contágio.
Diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás diz que a produção da vacina visa antecipar um possível cenário de contágio entre pessoas. “Não é para já comercializar, mas para propor um estoque estratégico caso o Ministério da Saúde precise acionar”, explica, em nota.
Ao g1, a Anvisa afirma que “recebeu o pedido de anuência para o estudo clínico do Instituto Butantan de desenvolvimento de potencial vacina de influenza tipo A (H5N8)". Segundo a agência, após a análise da documentação inicialmente apresentada, "foi necessária a apresentação de informações complementares pelo Instituto Butantan para prosseguimento da análise”.
Segundo a pasta, “a documentação encontra-se em análise em caráter prioritário”.
Protocolo de estudo clínico aprovado
Com aprovação da Anvisa, o estudo clínico deve funcionar da seguinte forma:
A influenza aviária em humanos é altamente letal, beirando os 50% de chance de óbito ao contrair a doença. No entanto, a transmissão acontece apenas ao ter contato com hospedeiros contaminados –aves e mamíferos. Ingerir ovos ou carne de frangos doentes não é um risco.
Ainda segundo Kallás, o Instituto está, ainda, “desenvolvendo uma rota tecnológica” que pode ser trilhada caso o vírus sofra alguma mutação.
O H5N1 já sofreu mutações desde que foi descoberto, em 1996, na China. Antes transmitido apenas entre aves, passou a ter novos hospedeiros, os mamíferos.
Biomédica, pesquisadora e professora da Escola de Saúde da Unisinos, Mellanie Fontes-Dutra enfatiza que manter-se vigilante e acompanhar a evolução dos casos é crucial para evitar uma nova epidemia – e até mesmo uma pandemia.
“Nas últimas décadas, temos observado surtos de gripe aviária de maior magnitude e um aumento na diversidade de hospedeiros. Estudos recentes mostram que pinípedes, como leões e lobos marinhos, têm sido afetados com crescente frequência por essa infecção, com alta mortalidade”, aponta a pesquisadora.Desafio persistente à saúde global
Desde sua primeira detecção em aves, na China, em 1996, a gripe aviária tem representado um desafio persistente para a saúde pública global.
Com os primeiros casos humanos surgindo logo após, explica o infectologista do Hospital das Clínicas Igor Marinho, o vírus demonstrou uma notável capacidade de diversificação e disseminação por meio de aves migratórias.
Em 2024, após quase mil casos humanos documentados e uma taxa de mortalidade de cerca de 50%, a ciência tem intensificado seus esforços para combater a ameaça em constante evolução.
A chegada do H5N1 à América do Norte em 2014 resultou em um surto avícola significativo, mas o vírus recuou. Em 2022, no entanto, um novo subtipo do H5N1 --o clado 2.3.4.4b-- emergiu, espalhando-se rapidamente entre aves domésticas e diversas espécies de mamíferos selvagens.
O avanço mais recente e preocupante é a sua transmissão para vacas leiteiras, cujas implicações ainda estão sendo investigadas.