A compaixão nos faz tirar a vida do automático. Faz-nos perceber que a necessidade do outro também é importante. A compaixão amplia a nossa ótica além do que se pode ver, transcende o exterior. Não é uma simples opção para aqueles que são o alvo do amor de Deus expressar generosidade, mas é uma oportunidade de decidir ser alguém que faz a diferença no ambiente que está inserido. A compaixão rompe rótulos, estereótipos e como se não fosse o bastante, desconstrói um coração que foi petrificado pela religião.
No livro de Provérbios encontramos diversas afirmações sobre quão recompensador é ter um coração generoso, não apenas por importar-se com a necessidade alheia, mas de colocar-se no lugar do outro, semelhantemente ao que Jesus fazia no seu tempo de ministério aqui na terra. Tudo o que Jesus fazia é porque antes, via o Pai fazer. Um Deus que se importava com a necessidade do pior tipo de pessoa que você possa imaginar, em contrapartida enquanto alguns o admirava muito, outros se assustavam por vê-lo inclinar-se para servir, para responder, para ouvir o necessitado na perspectiva da compaixão.
A diferença está no quanto colocamos o coração naquilo que fazemos. Não é o fazer, mas como é feito. O que torna alguém mais ou menos nobre é o quanto as suas atitudes expressam em si o amor. Um amor que não é apenas verbalizado, mas está casado com a prática. Entretanto, compreendemos que o caráter de Deus tem tudo a ver com uma compaixão que não mede esforços, que não se limita ou restringe-se a pessoas especificas, mas que é capaz de surpreender a todos aqueles que recorrem a Ele, que se prostram a Ele e dependem totalmente dele. Este é o Deus que percebe. O Deus que se preocupa. O Deus que compreende, que conhece a individualidade. O Deus que rompe a multidão e encontra um. O Deus que não está indiferente a sua necessidade, a sua dor, ao seu problema. Ele vê quando ninguém mais vê!
A Bíblia relata dois acontecimentos inesperados no livro de Lucas, capítulo 8. Programações que não estavam na agenda de Jesus, mas foi assunto em toda a comunidade por testificarem algo nunca visto antes. A história de Jairo, um dos principais chefes da sinagoga chama atenção de Jesus. Jairo ocupava uma posição importante e apesar de ser uma figura de autoridade representativa do povo, ele recorre e se prostra a Jesus para que pudesse curar a sua única filha de doze anos. Jairo tinha uma necessidade urgente e foi atendido por tão somente crer que aconteceria um milagre com a sua filha.
Enquanto Jesus estava a caminho da casa de Jairo, a multidão o comprimia, mas houve um outro acontecimento inesperado. Uma mulher que sofria com hemorragia há doze anos, desesperada, sem solução, de repente encontra com Aquele que poderia curá-la. Ela chega por trás de Jesus, no meio da confusão, e toca na borda de seu manto. Imediatamente a hemorragia cessou. Jesus reconhece aquele toque e atende aquela necessidade imediatamente. Talvez, para a multidão, seria apenas um toque qualquer, um momento improvável para aquela mulher ser curada ou um lugar inadequado, mas ela insistiu até que seu toque pudesse atrair a atenção do Mestre.
Aos olhos de Deus nada passa desapercebido sem que Ele não faça algo surpreendente. Ele não deixa para depois o que pode ser resolvido instantaneamente se tão somente crer. Quando menos esperamos o “de repente” acontece. Enquanto Jairo era uma figura importante e a mulher com hemorragia era alguém anónima naquela multidão, Jesus os atende com compaixão.
A verdade é que não há necessidade, problema ou circunstância alguma que seja maior que a capacidade dele de intervir ao seu favor. Não há momento que você toque Jesus que ele não perceba. Não há toque que você faça em Jesus que seja indiferente. Não há agenda que Jesus não pare ao ser tocado. Não há contexto que Jesus não interrompa ao receber um toque!
Matheus Grismaldi é jornalista, escritor, missionário e assessor de comunicação e imprensa em Angola, África. Idealizador do projeto de leitura cristã “Um Clube pra Ler” com leitores de países lusófonos. Professor na Escola de Ministério Vinha Angola e faz parte da liderança na Igreja Videira.