A Bíblia, o Evangelho e a glória de Deus no casamento
Sexta-feira, 14 de Junho de 2024    07h57

A Bíblia, o Evangelho e a glória de Deus no casamento

Alicerce, fonte e foco

Fonte: Voltemos ao Evangelho
Foto: Divulgação

 

Você já abotoou sua camisa de modo errado… bem, daquele jeito em que os botões e as casas não se emparelham, e a camisa parece ter sido abotoada por meninos bem pequenos? (Isto é apenas um palpite: erros como esse parecem ser coisa de homem.) Fiz isso recentemente. Coloquei o primeiro botão na casa errada e continuei abotoando, até que exibi uma moda horrorosa. O engraçado foi que pensei que estava muito elegante – talvez houvesse um botão extra lá embaixo, mas, obviamente, era um defeito da camisa.

Momentos como esse deixam minha esposa, Kimm, numa situação complicada. Devo arrumar a roupa dele de novo?, ela pensa, ou deixo o pessoal do escritório se divertir com esta moda? Dessa vez ela foi misericordiosa, e passei o dia com a camisa abotoada corretamente.

É admirável como uma pessoa pode parecer esquisita e desalinhada por não abotoar direito aquele primeiro botão. Comece no lugar errado e você não poderá corrigir o problema ao longo do percurso. Acertar no começo é a chave para fazer certo todo o resto.

O casamento é como aquela camisa. Se você acertar nas primeiras coisas, os muitos “botões” seguintes – comunicação, solução de conflitos, romance, as funções próprias de cada um –, todos começam a alinhar-se de modo que trabalhem juntos.

Qual é o primeiro botão no casamento? Você já sabe… a teologia! Mas, como é uma teologia “abotoada de modo correto”? Consideraremos brevemente três dos mais importantes componentes de uma teologia de casamento bíblica e íntegra.

O alicerce do casamento – A Bíblia

Para ser um bom teólogo e, portanto, um bom cônjuge, devemos estudar como Deus realmente é. Nossa compreensão e interpretação de Deus e da realidade devem vir das Escrituras. Ele se revela verdadeiramente nas Escrituras – seu caráter, ações, sentimentos e plano glorioso e redentor. Dizendo-o de maneira mais profunda, na Bíblia encontramos a Deus como Ele se revela na pessoa de Jesus Cristo. Cristo é “a verdade” (Jo 14.6). Conhecer a Cristo significa conhecer a verdade. Casamentos alicerçados na verdade são, inerentemente, centrados em Cristo.

É evidente que vivemos numa época em que as pessoas dão ao casamento o significado que desejam. Sem qualquer fonte de autoridade, o casamento segue a cultura… não importa onde estava. Em uma noite de festa com aquela dança de sacudir a cabeça, uma artista pop famosa casou-se e na manhã seguinte anulou o casamento. Talvez o casamento lhe tenha parecido uma coisa divertida a se fazer por algumas horas, não muito diferente de uma tarde no shopping ou de uma visita à cafeteria Starbucks. Somente um prazer espontâneo, sem mal algum.

É por isso que a Bíblia é tão importante. Como Palavra de Deus, ela enche o casamento de significado eterno e glorioso. Também fala com autoridade a respeito do que o casamento deve ser. A Bíblia é tanto o padrão avaliador para o casamento como a chave para nos unirmos em casamento. É maravilhoso e libertador compreender que a durabilidade e a qualidade do casamento não estão baseadas na força do nosso compromisso com ele. Em vez disso, estão baseadas em algo à parte do casamento: a verdade de Deus, a verdade que encontramos, simples e clara, nas páginas das Escrituras.

Conheço um engenheiro cujo trabalho é complicado demais até para eu começar a entender. Não faz muito tempo que ele me falou sobre um programa de computador que tinha um manual de operação que exigia explicações de seu próprio criador. Engenheiros de todas as partes do mundo apressaram-se em busca desse inventor para aprender a interpretar o manual e usar o programa. O raciocínio era que ele havia criado o programa, escrevera o manual e, por isso, era a autoridade… comecemos por aqui! Isso é lógico para mim.

Isso também se aplica ao casamento. Deus criou o casamento, escreveu o “manual de operações” e mostra-se fiel em explicá-lo. Ele é a única autoridade e a única pessoa digna de confiança no assunto de casamento. Como seu “inventor” (ver os dois primeiros capítulos de Gênesis), Deus sabe como o casamento funciona e o que fazer para que dure. Sendo Ele Senhor sobre o casamento, tem-nos concedido tudo que necessitamos para a vida e a piedade – incluindo o casamento –, em sua Palavra.

A Bíblia é o alicerce para um casamento próspero.

A fonte de seu casamento – O Evangelho

Se queremos vivenciar um casamento que tem a Bíblia como alicerce, certifiquemo-nos de estar seguros a respeito do que isso realmente significa. Eis um breve resumo da perspectiva bíblica.

Bem, vejamos… nos dois primeiros capítulos de Gênesis, percebemos que Deus criou o homem e a mulher para viverem em dependência dele e para a glória dele. Contudo, no terceiro capítulo observamos que eles se desviaram de Deus, voltando-se para si mesmos – o pecado entrou em cena. Como resultado imediato, eles perderam o relacionamento extraordinariamente pessoal que haviam desfrutado com Deus – um rompimento que afetaria todas as pessoas. Muitas, muitas páginas depois, no fim do livro de Apocalipse, Deus restaura completamente aquele relacionamento pessoal perdido por Adão e Eva e cria novos céus e nova terra para seu povo.

Vejamos… no passado houve um relacionamento interrompido pelo pecado. Então, porque o pecado foi removido, o relacionamento é completamente restaurado em algum ponto do futuro. Esse é um esboço bem claro. Agora, o que acontece nos sessenta e quatro livros do meio? O evangelho, é isso que acontece. Deus envia seu Filho como resposta para o dilema do pecado, não só para ser um exemplo de bondade moral ou para nos ensinar como viver, mas para receber o julgamento do pecado prometido em Gênesis 3, a fim de que vivamos num relacionamento restaurado com Deus para sempre.

O evangelho é o âmago da Bíblia. Todas as coisas nas Escrituras são ou uma preparação para o evangelho, ou uma apresentação do evangelho, ou uma participação no evangelho. Na vida, na morte e na ressurreição de Cristo, o evangelho oferece uma solução cabal para o nosso pecado – para hoje, para amanhã, para o dia em que estaremos diante de Deus, para sempre.

Realmente não há limites para as glórias do evangelho, o qual é a razão por que passaremos a eternidade admirados de que o Deus Santo tenha escolhido moer o Filho unigênito por amor ao pecador. O evangelho explica o nosso problema básico e mais óbvio – o pecado nos separou de Deus e uns dos outros. Por isso, somos objetos da ira de Deus. Um cristão compreende a necessidade que temos da cruz; nosso pecado era tão grave que exigiu sangue, o sangue de Deus, para removê-lo! Sem a cruz, estamos em guerra com Deus, e Ele está em guerra conosco.

Portanto, o evangelho é central a toda a verdade teológica; é também a realidade plena que possibilita que todas as demais coisas tenham sentido. Não se engane pensando que o evangelho é bom apenas para evangelização e conversão. Por meio do evangelho, entendemos que, embora salvos, ainda somos pecadores. Por meio do evangelho recebemos o poder para resistir ao pecado. A compreensão correta e a aplicação contínua do evangelho é a vida cristã.

Isso também significa que o evangelho é uma fonte inesgotável da graça de Deus em seu casamento. Para tornar-se um bom teólogo e para nutrir uma expectativa de um casamento que dure por toda a vida e seja bem-sucedido, você precisa ter um entendimento claro do evangelho. Do contrário, não poderá ver a Deus, a você mesmo ou o seu casamento como eles realmente são.

O evangelho é a fonte de um casamento próspero.

O foco do seu casamento – A Glória de Deus

Quando começamos a orientar nosso casamento ao redor da verdade bíblica, vemos algo impressionante. O casamento foi não somente inventado por Deus, mas também pertence a Ele. O Senhor faz uma reivindicação singular sobre as características, o propósito e os objetivos do casamento. O casamento existe realmente mais para Ele do que para você, para mim ou para nosso cônjuge.

Isso mesmo. O casamento não diz respeito, primeiramente, a mim e ao meu cônjuge. É óbvio que o homem e a mulher são essenciais, mas também são secundários. Deus é a pessoa mais importante em um casamento. Esta união visa ao nosso bem, mas, em primeiro lugar, visa à glória de Deus.

Isso talvez pareça estranho, surpreendente ou difícil de aceitar, mas é uma verdade vital para cada casal cristão. O culto na igreja pode oferecer as formalidades religiosas de um casamento, mas fazer de Deus a autoridade desse relacionamento é uma realidade diária.

Em meu ministério pastoral, tenho visto os tristes frutos do erro de não entregar a Deus aquilo que é seu por direito.

  • Jovens casais precipitam-se em casos amorosos, desconsiderando a sabedoria das pessoas mais próximas e tentando usar o casamento como um meio de legitimar desejos incontrolados. Não vêem o casamento como um relacionamento que, em primeiro lugar, diz respeito a Deus.
  • Casais cristãos invertem os papéis que a Bíblia lhes atribui e as responsabilidades conjugais em favor “das coisas que funcionam”, embora isso signifique qualidade de vida aquém da que Deus tencionou. Eles não vêem o casamento como um relacionamento que, em primeiro lugar, diz respeito a Deus.
  • E, o que é mais trágico, famílias cristãs dividem-se pelo divórcio, quando um ou ambos os cônjuges decidem que as necessidades pessoais são mais importantes do que aquilo que Deus uniu. Eles não vêem o casamento como um relacionamento que, em primeiro lugar, diz respeito a Deus.
  • O apóstolo Paulo usa grande parte de Efésios 5 para dirigir-se a pessoas casadas. Havendo delineado, nos capítulos anteriores, o que Cristo fez por eles como indivíduos, Paulo exorta aos esposos e às esposas: “Andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Ef 4.1). O capítulo 5 de Efésios está repleto de instruções para a edificação de casamentos bem-sucedidos. O aspecto mais notável na abordagem de Paulo é este: Cristo é o ponto de referência para todas as nossas atitudes no casamento.

    As esposas devem submeter-se ao marido “como ao Senhor” (v. 22). Os maridos devem amar a esposa “como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (v. 25). Os maridos devem nutrir e cuidar de sua esposa “como também Cristo o faz com a igreja” (v. 29). Em cada exortação, vemos que, embora o agir pertença a nós, há algo mais notável e mais sublime acontecendo por meio dessas ações.

    Vemos isso novamente no versículo 32, que descreve a realização de algo glorioso e profundo. “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.” O comentador George Knight nos oferece este discernimento:

    As pessoas dos dias de Moisés desconheciam (era um “mistério”) o fato de que o casamento havia sido designado por Deus, desde o começo, para ser uma figura ou parábola do relacionamento entre Cristo e a igreja. No início, quando Deus planejou como seria o casamento, Ele o projetou com este grande propósito: seria na terra uma bela ilustração do relacionamento que um dia se concretizaria entre Cristo e sua igreja. Durante muitas gerações, isso era desconhecido das pessoas. Por isso, Paulo o chama de “mistério”. Mas, agora, na época do Novo Testamento, Paulo revela esse mistério, que é surpreendente.

    Isso significa que, ao falar aos cristãos de Éfeso sobre o casamento, Paulo não ficou procurando em toda parte a fim achar uma analogia proveitosa, chegando, de repente, à conclusão de que “Cristo e a igreja” podiam ser uma boa ilustração do seu ensino. Não, o que aconteceu foi muito mais significativo: Paulo viu que, quando Deus planejou o casamento, Ele já tinha Cristo e a igreja em mente. Este é um dos grandes propósitos de Deus no casamento: ilustrar para sempre o relacionamento entre Cristo e seu povo redimido!2

    Acho isso profundo. O casamento foi estabelecido no mundo – no seu lar e no meu – como um lembrete, uma parábola viva do relacionamento de Cristo com a igreja.

    Os meses de preparação, o grande dia, a memorável lua-de-mel – essas coisas são importantes, mas há algo mais importante do que um magnífico álbum com as fotos do casamento. Quando um homem e uma mulher se unem em casamento, eles iniciam um novo e vitalício exemplo do relacionamento entre Cristo e sua igreja.

    Quão fácil é agir como se o marido e a esposa fossem as únicas partes relevantes no casamento. Mas, em última análise, o casamento diz respeito a Deus. Além disso, o casamento é maravilhoso não porque traz alegria às pessoas, ou porque proporciona um ambiente para a criação dos filhos, ou porque estabiliza a sociedade (embora o casamento faça todas essas coisas). O casamento é maravilhoso porque Deus o projetou para manifestar a sua glória.

    O foco de um casamento próspero é a glória de Deus.

    Por: Dave Harvey

    Dave Harvey é pastor na Convenant Fellowship Church, Pennsylvania (EUA), que faz parte da família de igrejas do ministério Sovereign Grace. Dave Harvey é um dos líderes desse ministério, cujo objetivo é estabelecer e apoiar igrejas. Dave também dirige o envolvimento do Sovereign Grace na Europa, África e Ásia. Em 2001, concluiu o doutorado em Cuidado Pastoral, pelo Westminster Theological Seminary.

    Favorito
    AACC-MS
    www.midianewsms.com.br
    © Copyright 2013-2024.