O cineasta americano Spike Lee disse nesta terça, 6, que “mundo é governado por gângsteres" em referência a Donald Trump, Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, em suas primeiras declarações como presidente do júri do Festival de Cannes. Ele também condenou a brutalidade contra os negros nos Estados Unidos.
A tradicional coletiva de imprensa que antecede a abertura do maior festival de cinema do mundo imediatamente ganhou contornos políticos, em uma prévia do que pode ser a 74ª edição de Cannes, após seu cancelamento no ano passado devido à pandemia.
“Este mundo é governado por gângsteres. O agente laranja (referindo-se a Trump), aquele cara no Brasil (Bolsonaro) e Putin são gângsteres. Sem moral, sem escrúpulos. É o mundo em que vivemos”, disse o diretor americano comentando que o júri de Cannes não deve apenas "criticar os filmes, mas o mundo e os gângsteres".
Spike Lee, 64, é o primeiro afro-americano a ocupar o posto de presidente do júri do Festival de Cinema de Cannes, que começa nesta terça, 6, com o musical Annette, estrelado por Adam Driver e Marion Cotillard.
Ele comentou ter apresentado, em 1989, em Cannes, o filme Faça a Coisa Certa, sobre a violência contra os negros nos Estados Unidos. “Quando você vê como Eric Garner e George Floyd foram mortos, linchados... Poderíamos pensar que depois de malditos 30 anos os negros parariam de ser caçados como animais”.
Spike Lee não foi o único a associar cinema e militância. Os outros membros do júri também se pronunciaram.
O diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho falou sobre a crise sanitária que o Brasil vive, com mais de 500 mil mortos vítimas da covid-19. “Segundo dados técnicos, se o governo tivesse feito o que deveria ter feito, 350 mil vidas teriam sido salvas”, ele disse.
Mendonça Filho também lamentou o “fechamento há mais de um ano da Cinemateca Brasileira, com 90 mil filmes (...) e todos os técnicos e especialistas demitidos”. “Esta é uma forma muito clara de reprimir a cultura e o cinema”, disse Kleber Mendonça Filho. Para ele, “uma forma de resistir é passar a informação e falar sobre isso”.
Por sua vez, as mulheres da comissão julgadora, que são a maioria, reivindicaram mais igualdade na indústria cinematográfica.
"Mesmo dentro de uma cultura tão masculina, fazemos filmes diferentes, explicamos as histórias de outro jeito. Vamos ver o que acontece com um júri de cinco mulheres e quatro homens", disse a atriz americana Maggie Gyllenhaal.
AFP