Ingênuos de Deus?
Quarta-feira, 17 de Junho de 2020    19h52

Ingênuos de Deus?

A fé cristã é um absurdo intelectual? Os cristãos estão iludidos?

Fonte: Voltemos ao Evangélio
Foto: Divulgação

 

“Se Deus existe e se interessa pelos assuntos dos seres humanos, sua vontade não é inescrutável”, escreve Sam Harris, sobre o tsunami de 2004, em Uma Carta à uma nação cristã. “A única coisa inescrutável aqui é que tantos homens e mulheres racionais podem negar o horror absoluto desses eventos e acreditar que essa é a medida da sabedoria moral” (p. 48). Em seu artigo “God’s Dupes”, (Ingênuos de Deus) Harris argumenta: “Tudo de valor que as pessoas obtêm da religião pode ser obtido mais honestamente, sem presumir nada baseando-se em evidências insuficientes. O resto é autoengano, em forma de música” (The Los Angeles Times, 15 de março de 2007). Ironicamente, o primeiro livro de Harris é intitulado A Morte da Fé, mas deveria, na verdade, ser chamado de “A Morte da Razão”, pois demonstra novamente que a mente alienada de Deus em nome da razão pode se tornar totalmente irracional.

O zoólogo de Oxford, Richard Dawkins, sugere que a ideia de Deus é um vírus, e precisamos encontrar um software para erradicá-la. De alguma forma, se pudermos eliminar o vírus que nos levou a pensar dessa maneira, seremos purificados e livres dessa nojenta noção de Deus, bem e mal (Viruses of the Mind, 1992). Junto com Christopher Hitchens e alguns outros, esses ateus estão pedindo o banimento de toda crença religiosa. “Fora com esse absurdo!” é o seu grito de guerra. Em troca, eles prometem um mundo de novas esperanças e horizontes ilimitados, depois que nos livramos dessa ilusão de Deus.

Tenho notícias para eles – notícias contrárias. A realidade é que o vazio resultante da perda do transcendente é poderoso e devastador, tanto filosoficamente como existencialmente. De fato, a negação de uma lei moral objetiva, baseada na compulsão de negar a existência de Deus, resulta, em última instância, na negação do próprio mal. Além disso, alguém gostaria de perguntar a Dawkins: somos moralmente obrigados a remover esse vírus? De alguma forma, ele próprio está, é claro, livre do vírus e, portanto, pode inserir nossos dados morais.

Na tentativa de escapar do que eles chamam de contradição entre um Deus bom e um mundo do mal, os ateus tentam dançar em torno da realidade de uma lei moral (e, portanto, um legislador moral), introduzindo termos como “ética evolucionista”. Quem levanta a questão contra Deus, na verdade, interpreta Deus enquanto nega que ele exista. Agora, pode-se perguntar: Por que você realmente precisa de um legislador moral se você já tem uma lei moral? A resposta é que o questionador e a questão ele ou ela sempre envolvem o valor essencial de uma pessoa.

Você nunca pode falar de moralidade de forma abstrata. As pessoas estão implícitas na questão e no objeto da questão. Em poucas palavras, postular uma lei moral sem um legislador moral seria equivalente a levantar a questão do mal sem um questionador. Portanto, você não pode ter uma lei moral a menos que a própria lei moral esteja intrinsecamente tecida na personalidade. Isso significa que uma pessoa intrinsecamente digna deve existir para que a própria lei moral seja valorizada. E essa pessoa só pode ser Deus.

Nossa incapacidade de alterar o que é real frustra nossas grandiosas ilusões de sermos soberanos sobre tudo. No entanto, a verdade é que não podemos escapar do problema existencial fugindo de uma lei moral. Valores morais objetivos existem somente se Deus existe. Tudo bem, por exemplo, mutilar bebês para entretenimento? Toda pessoa sensata dirá “não”. Sabemos que existem valores morais objetivos. Portanto, Deus deve existir. Examinar essas premissas e sua validade apresenta um argumento muito forte.

O profeta Jeremias observou: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Da mesma forma, o apóstolo Tiago disse: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.” (Tg 1. 22-25).

O mundo não entende do que se trata o caráter absoluto da lei moral. Alguns são pegos, outros não. No entanto, quem de nós gostaria que nosso coração fosse exposto na primeira página do jornal de hoje? Não houve dias e horas em que, como Paulo, você lutou dentro de si e disse: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.15, 24). Se formos honestos, cada um de nós conhece essa tensão e conflito interior.

Portanto, como cristãos, devemos tomar um tempo para refletir seriamente sobre a pergunta: “Deus realmente fez um milagre na minha vida? Meu coração é prova da intervenção sobrenatural de Deus?” No Ocidente, passamos por essas temporadas de novas teologias. Toda a questão do “senhorio” atormentou nossos debates por algum tempo, quando perguntamos se havia uma visão minimalista da conversão? “fizemos uma oração e só”. No entanto, como pode haver uma visão minimalista da conversão quando a própria conversão é uma obra máxima da graça de Deus? “as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2Co 5.17).

Se você estivesse propondo casamento a alguém, o que diria, quem estivesse recebendo a proposta se você dissesse: “Quero que saiba que essa proposta não muda nada sobre minhas lealdades, meu comportamento e minha vida cotidiana; no entanto, quero que saiba que, se aceitar minha proposta, seremos teoricamente considerados casados. Não haverá outras mudanças em mim em seu favor. De uma maneira estranha, minimizamos todo o compromisso sagrado e o tornamos no menor denominador comum. O que meu novo nascimento significa para mim? Essa é uma pergunta que raramente fazemos. Quem eu era antes da obra de Deus em mim e quem sou eu agora?

Os resultados imediatos de conhecer a Jesus Cristo são os novos desejos e novas atividades que são plantadas dentro da vontade humana. Lembro-me bem dessa mudança dramática em meu próprio modo de pensar. Havia novos anseios, novas esperanças, novos sonhos, novas realizações, mas o mais notável era que havia uma nova vontade de fazer o que era a vontade de Deus. Thomas Chalmers caracterizou essa mudança que Cristo traz como “o poder expulsivo de um novo afeto”. Esse novo afeto de coração – o amor de Deus operado em nós pelo Espírito Santo – expulsa todas as outras velhas seduções e atrações. Quem conhece a Cristo começa a ver que seu próprio coração desorientado é pobre e precisa de submissão constante à vontade do Senhor – rendição espiritual. Sim, todos somos dotados de personalidades diferentes, mas a humildade de espírito e a marca da conversão é ver a própria miséria espiritual. A arrogância e a presunção devem ser inimigas da vida do crente. Uma profunda consciência dos próprios novos apetites e anseios é um testemunho convincente da graça interior de Deus.

Por: Ravi Zacharias. 

Ravi Zacharias: Foi presidente e fundador de Ravi Zacharias International Ministries (www.rzim.org). Nascido na Índia, lecionou em mais de cinquenta países e em várias das universidades mais proeminentes do mundo. Foi autor de inúmeros livros, entre os quais O grande tecelão (Shedd Publicações), e apresentar do programa semanal de rádio Let the People Think. Ele e a esposa, Margie, são pais de três filhos.
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