Vacina planejada para Mers e Sars vira modelo em pesquisa de imunização contra a Covid-19
Sábado, 30 de Maio de 2020    06h48

Vacina planejada para Mers e Sars vira modelo em pesquisa de imunização contra a Covid-19

DNA sintético é usado para conseguir gerar anticorpos antes de infecção real pelos coronavírus. Pesquisadores publicaram experiência na 'Nature Communications'.

Fonte: Redação
Foto: Reprodução/Visual Science
Modelo 3D do Sars-Cov-2, o novo coroavírus, com zoom na proteína Spike

 

Pesquisadores apostam em uma vacina desenhada com DNA sintético para obter a imunização contra o Sars CoV-2, de acordo com estudo publicado na "Nature Communications" Os cientistas usaram como bases vacinas idealizadas contra o Sars e o Mers – dois vírus da mesma família que causaram epidemias em 2002, na China, e em 2012, no Oriente Médio, respectivamente.

A família coronavírus foi assim batizada devido a uma estrutura em forma de coroa. O espinho - "spike" - é uma proteína responsável por fazer uma ligação com o receptor ACE2 nas células do corpo humano. Quando isso acontece, o coronavírus consegue gerar a infecção e se multiplicar.

Com isso, o sistema imunológico reconhece a estrutura viral com um corpo estranho e um mecanismo é acionado, que gera a produção de anticorpos e outros componentes. Na maioria das vezes, o próprio sistema da pessoa infectada consegue combater o Sars CoV-2. As vacinas tentam "treinar" o nosso organismo para evitar com que o vírus entre nas células antes da chegada de um vírus real. E caso entre, seja capaz de proteger contra evolução da doença.

"Aproximadamente 20% das pessoas têm sinais da doença Covid-19. O problema é que esse número representa muita gente porque o vírus se espalha muito rápido. A única forma de barrar isso é uma vacina ou um tratamento específico", disse Gustavo Cabral, imunologista que atua na criação de uma vacina no Brasil.

Os projetos de Sars e Mers

A vacina INO-4700 (feita inicialmente contra o Mers) está em testes clínicos, mas apresentou resultados positivos. Camundongos e porquinhos-da-índia receberam uma dose e produziram anticorpos capazes de neutralizar o vírus, assim como outros componentes do sistema imunológico, as células T (linfócitos T). A eficiência contra o Sars CoV-2 em comparação com o Mers é de 96%, e a imunidade contra o vírus é mantida por 60 semanas.

As pesquisas com a INO-4700 estão na fase 2 na Coreia do Sul. Um dos trabalhos com essa tecnologia foi publicado em 2015 com resultados em macacos. Em 2019, foram divulgados os dados da fase 1 com humanos (veja as fases de produção de uma vacina abaixo). Uma etapa maior da fase 2 está prevista para começar no Oriente Médio.

"Após a imunização de camundongos e porquinhos-da-índia com INO-4800, medimos as células T específicas para os vírus, anticorpos funcionais que neutralizam a infecção por Sars CoV-2 e bloqueiam a ligação da proteína ACE2 (...). Este conjunto de dados preliminares identifica a INO-4800 como uma potencial candidata à vacina contra a Covid-19", disseram os autores.

ACE2 e DNA sintético

Os receptores ACE2 são encontrados em células do coração, dos rins e em outros órgãos. Pesquisas científicas recentes, inclusive no Brasil, os apontam como a "porta de entrada" do coronavírus nas células no corpo humano.

A vacina usa a sequência genética expressa pela proteína "Spike" em um DNA sintético criado em laboratório. O vírus não é inserido no corpo humano, apenas uma parte dele, que não apresenta risco. E com isso, produz a "Spike" dentro do organismo e faz com que o sistema imunológico identifique o "corpo estranho" e desenvolva uma proteção real antes da chegada do coronavírus.

Estágios de produção de vacinas

Para chegar a uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas. Entre elas está a pesquisa básica – que é o levantamento do tipo de vacina que pode ser feita. Depois, passam para os testes pré-clínicos, que podem ser in vitro ou em animais, para demonstrar a segurança do produto; e depois para os ensaios clínicos, que podem se desdobrar em outras quatro fases:

  • Fase 1: feita em seres humanos, para verificar a segurança da vacina nestes organismos
  • Fase 2: onde se estabelece qual a resposta imunológica do organismo (imunogenicidade)
  • Fase 3: última fase de estudo, para obter o registro sanitário
  • Fase 4: distribuição para a população
  • Vacina de Oxford

    Com a previsão otimista de ficar pronta ainda em 2020, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, também é uma esperança no combate à Covid-19.

    Ela ofereceu proteção em um estudo pequeno com seis macacos, resultado que levou ao início de testes em humanos no final de abril, de acordo com informações dos cientistas americanos e britânicos.

    Em humanos, os testes têm apenas 50% de chance de sucesso. Adrian Hill, diretor do Jenner Institute de Oxford, que se associou à farmacêutica AstraZeneca para desenvolver a vacina, disse que os resultados de um próximo estudo, envolvendo mais de 10 mil voluntários, podem não garantir que a imunização seja eficaz e pede cautela.

    A universidade disse que instituições parceiras de todo o Reino Unido começaram a recrutar até 10.260 adultos e crianças para ver quão bem o sistema imunológico humano reage à vacina e quão segura ela é.

    "A velocidade com que esta nova vacina avançou para testes clínicos de fase adiantada é um testemunho da pesquisa científica pioneira de Oxford", disse Mene Pangalos, executivo da AstraZeneca.

     

    Por: Carolina Dantas/G1

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