“É assim que Deus te trata?”
Quinta-feira, 07 de Maio de 2020    10h14

“É assim que Deus te trata?”

Resistindo a Satanás em seu sofrimento

Fonte: Voltemos ao Evangélio
Foto: Divulgação

 

Em uma noite cheia de olhares demorados e sombras mais demoradas ainda, em uma noite de bocas abertas, mas de poucas palavras, em uma noite em que nem de pé nem sentado se encontra alívio, quando olhos avermelhados pairam sobre respirações encurtadas, em uma noite em que a coluna se recusa a ficar ereta e as mãos parecem pesadas demais para enxugar as lágrimas, em uma noite em que as horas não significam nada, quando você fica indiferente entre o sono e a vigília, enquanto os pensamentos rodopiam como folhas em um furacão – não posso continuar sem ele. Senhor, eu não. Por que isso, por que agora? Ó Deus, não meu filho. – nessas noites, desejamos ser deixados sozinhos. No entanto, uma voz indesejada chega para sussurrar.

Ele gosta de nos encontrar em ruínas. Nosso sangue atrai o tubarão. Não te ofereci melhor que isso? Seus sussurros de dúvida despejam sal em feridas abertas. Ele questiona. Mas a alma crente se levanta para enfrentá-lo.

Satanás diz: Deus deve estar extremamente zangado com você para machucá-lo tanto assim.

Eu me preocupo que esta noite confirme meu maior medo: que meu Deus finalmente me abandonou. Estremeço ao imaginar se estou abandonado, bem agora, neste momento de grande necessidade.

Você faz bem em temer.

No entanto, devo me apegar às palavras da promessa de Deus. Elas é que são “lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” – não minha circunstância obscurecida. Lá, li que seus filhos deveriam esperar aflição e perseguição. A pergunta do meu Salvador, como agora me lembro, é exatamente o oposto da sua: Por que você esperaria facilidade no caminho da glória?

Ele já me falou antes sobre esse caminho estreito e difícil. Ele declarou claramente que devo levar uma cruz para receber a coroa. “No mundo tereis aflições”, prometeu. Não, sua palavra me prepara para ser esfaqueado na escuridão.

Mas por que, depois de tudo o que aconteceu, você ainda assume que é filho dele?

Eu leio sobre aqueles que clamarão a ele naquele dia final “Senhor, Senhor”, em suposta familiaridade, à qual Deus responderá: “nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” Sei bem que alguns, nesta vida, assumem ser dele sem realmente ser.

Exatamente.

Mas esses eram homens e mulheres maus que assumiam o nome do Senhor, mas deixavam de lado seus mandamentos. Eles construíram suas vidas na areia, não na rocha de sua Palavra. Pela sua graça, eu o amo, estou unido a Cristo pela fé e gosto de obedecê-lo – não perfeitamente, mas de forma consistente. Meus sofrimentos não parecem demonstrar que eu seja um desses enganadores.

Então, Deus fere até mesmo seus verdadeiros filhos assim?

De jeito nenhum. Pelo menos não assim. Seus apóstolos nos instruem a não nos surpreendermos com as provações ardentes. Elas me chamam a considerar toda a alegria quando dores indesejáveis batem à minha porta e me acordam em momentos inesperados da noite. Esses sofrimentos produzem caráter, e o caráter produz esperança.

Além disso, a experiência dolorosa da disciplina, em vez de ser um sinal de orfandade, é um sinal de adoção. Hipócritas e mentirosos evitam suas cruzes e castigos; filhos e filhas não. Eu sou um companheiro herdeiro de Cristo – desde que sofra com ele para que também eu seja glorificado com ele.

Além disso, mesmo neste quarto escuro, posso ver, de minha janela, a lua brilhando. . .

E daí?

Deus não disse que, ele estabeleceu a ordem de seu universo – o sol que segue seu curso de alegria, a lua que lança seu brilho, as estrelas que permanecem como vigias em suas torres, os mares cujas ondas dançam onde os homens não podem – e quando essas coisas se manifestarem em motins bem-sucedidos contra seu Criador, então, e só então, terei motivos para começar a me preocupar que ele não cumpra sua aliança comigo? (Jr 31. 35–37).

Sofro sim, mas o faço sob essa luz noturna fixada no céu escuro, lembrando-me que ele não deixou de me amar. E este é apenas um dos muitos lembretes.

Mas se é assim que Deus trata os seus, por que continuar sendo dele?

Não nego que Deus tenha me dado um duro golpe. Eu gemo: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21). Agora eu sei o que é estar tão completamente sobrecarregado além da minha força que “me desespero até da própria vida” (2Co 1. 8). À medida que a estrada se estende, fico tentado a voltar.

Mas eu já fui tentado antes, e Deus me fortaleceu por sua graça. Quando meus pés começaram a tropeçar, ele me apoiou – e o fará novamente. Já andei com ele em muitos dias ensolarados para duvidar de sua fidelidade comigo agora. Aquele que impede que as ondas que rugem superem a costa manterá à distância as desastrosas inundações da aflição, que de outra forma me dominariam totalmente (1Co 10.13).

Mas e a justiça? Certamente, ele está sendo irracional com você para lhe causar tanto dano.

Agradeço por este lembrete. Devo sempre me lembrar da justiça. Meus pecados – ah, o horror deles – merecem mais golpes do que esta vida pode dar. Os males que pratico são sempre mais do que meus sofrimentos. Agradeço a Deus – mesmo neste vale profundo – por ele não lidar comigo de acordo com minhas iniquidades. Bênção, paz, alegria – essas devem ser as maiores surpresas para qualquer descendente de Adão.

Eu me derramo de amor por aquele que carrega todo o peso da minha angústia – minha justiça. Os males que me vem são pequenos inchaços e contusões que não ousam se aproximar daquele grito de abandono: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Construa uma Babel com todas as aflições humanas e ela não se aproximará das alturas da cruz, onde meu Senhor bebeu o cálice da onipotente ira em meu lugar.

Àquele que não poupou seu próprio Filho em favor de mim – como posso agora negar sua bondade? Não, ele está fazendo o bem no meu sofrimento. Tudo está concorrendo para o meu bem agora.

Espere, você assume cegamente que Deus está fazendo o bem ao prejudicar você?

Às vezes, admito, não consigo ver o bem que ele está fazendo no meu sofrimento. Mas isso nem sempre é para eu ver.

Uma resposta conveniente. Você não prefere escolher um destino mais agradável nesta vida?

Estou sobriamente consciente de qual caminho escolheria se fosse deixado sozinho. Eu percorreria o caminho da tranquilidade e do conforto, aquele sem nuvens ou tempestades. Ao fazer isso, eu escolheria um caminho onde teria menos consolo do meu Pai celestial, menos conforto do seu Espírito habitando em mim, menos dependência de seus santos, menos comunhão pela oração e menos conformidade com meu Salvador e Rei, Jesus Cristo.

Eu preferiria que meus pecados não fossem disciplinados. Eu rejeitaria toda dor. Eu me protegeria das lágrimas, baniria toda fraqueza. E com isso, eu perderia o grande lembrete de minha mortalidade. Seu poder perfeito não repousaria em mim. Eu não o conheceria como o Deus de todo conforto, nem seria capaz de ajudar àqueles que sofrem em suas aflições. E de forma lenta mas persistente, eu faria deste mundo minha casa.

Eu não deveria ficar agradecido, então, por ele me castigar, flagelar e esbofetear, em seu perfeito amor e sabedoria? Embora nenhuma dor seja agradável no momento, ela não produz um bem maior? Ele não deixa aqueles a quem odeia, impunes, indisciplinados, abandonados? O caminho largo não é o mais fácil?

Durante toda a sua conversa, ainda detecto um tremor na sua voz.

Também vejo isso em você. Agora vejo mais claramente o que está em jogo. Posso ver mais claramente como é estar sentado sobre escombros do dia anterior, profundamente abalado pela visão de seus filhos com os crânios esmagados, e ainda ter forças para proclamar “Ainda que me mate, nele esperarei”. Nós expomos suas promessas vazias quando nossas almas sangrentas preferem Deus às tuas ataduras e supostas bênçãos. Quando somos colocados no teatro do sofrimento, mostramos diante dos céus que teus encantamentos são apenas falsificações baratas.

Minha alma se apega ao Senhor – sim, com um aperto fraco, como um bebê agarra o dedo do pai, mas a sua mão direita me sustenta.

Então, devo deixar você apodrecer nessas ruínas?

Oh, este não é o meu fim. Lembro a você e à minha alma de uma só vez: viajo para um lugar onde a maldição está derrotada, os erros se tornam falsos e o choro não existe mais. É a grande calmaria após as tempestades, o grande triunfo após a batalha, a grande luz após a escuridão profunda. E meu coração trêmulo e meus olhos inchados antecipam aquela alegria que se eleva ainda mais alto por eu ter conhecido a tristeza.

O prazer se intensificará porque eu conheci a dor. A música será mais doce porque uma vez eu gemi. Meus sorrisos serão renovados porque foram, antes, molhados com lágrimas. Sentirei o inabalável reino mais firmes sob meus pés depois desse mundo de sombras. O rei me abraçará com suas mãos marcadas de as dores conquistadas. Tudo isso pregará um sermão interminável da glória – e custo – do pecado perdoado.

Embora você me tente, esse caminho difícil que todos os santos trilharam leva além da dor, além das lágrimas ofuscantes, além dos vales, muito além dos ventos que cortam e uivam. Sou mais que vencedor por meio daquele que me amou. Quando dias penosos terminarem, ele, Jesus.

E quando me preparava para ouvir uma resposta − silêncio.

“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” (Tg 4.7).

Por: Greg Morse. 

Greg Morse é escritor da equipe do desiringGod.org e graduado no Bethlehem College & Seminary. Ele e sua esposa, Abigail, moram em St. Paul.
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