China vive a maior quarentena da história recente do planeta
Sábado, 25 de Janeiro de 2020    06h45

China vive a maior quarentena da história recente do planeta

Não há registros de surto epidemiológico que tenha levado autoridades e restringir locomoção de tantas pessoas (mais de 25 milhões) como o atual

Fonte: Redação
Foto: EFE/EPA/LU HONGJIE
Quarentena ocorre em meio ao feriado do Ano-Novo na China

 

Na tentativa de frear o avanço de um novo tipo de coronavírus potencialmente mortal, a China isolou mais de 26 milhões de pessoas em ao menos dez cidades da província de Hubei — a capital Wuhan, de 11 milhões de habitantes foi onde o surto começou, em meados de dezembro.

Na história recente, não há registro de nenhuma doença que tenha exigido uma quarentena dessa dimensão. Até agora, foram 900 infectados e 26 mortos. Há outros 1.072 casos suspeitos que aguardam resultados de exames. 

Aeroportos ao redor do mundo aumentaram controle. Foto:EFE/EPA/RUNGROJ YONGRIT

 

Além de Wuhan, foram impostas restrições de viagens aos moradores de Huanggang (6,3 milhões de moradores), Huangshi (2,5 milhões), Xiantao (1,54 milhão), Qianjiang (1,1 milhão), Xianning (1,2 milhão), Ezhou (1 milhão), Enshi (857 mil), Zhijiang (500 mil) e Chibi (478 mil).

Os números, apesar de altos, representam menos de 2% de toda a população chinesa, que é de 1,38 bilhão.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos classificam a quarentena como a "separação e restrição de movimento de pessoas que, embora ainda não estejam doentes, foram expostas a um agente infeccioso e, portanto, podem se tornar infecciosas".

A medida, iniciada na quinta-feira (23), inclui o cancelamento de voos e de viagens de trem, a suspensão de transportes públicos locais, como metrô, ônibus e balsas, além de bloqueios nos pedágios rodoviários.

Tudo isso ocorre em meio ao principal feriado chinês, o do Ano-Novo Lunar, que é comemorado neste sábado (25) e dura uma semana. Milhões de pessoas viajam nesta época dentro e fora da China.

As tradicionais festividades foram canceladas em diversas cidades, inclusive na capital, Pequim. A Disney em Xangai também anunciou fechamento temporário.

Policiais bloqueiam estradas na saída de Wuhan. Foto: EFE/EPA/STRINGER CHINA OUT

 

"São medidas duras, em que você cerceia a liberdade de locomoção... mas eu não vejo isso com algo ruim. No caso da China, a densidade populacional é muito alta e o fluxo de pessoas, que normalmente já é intenso, seria maior ainda por causa do feriado do Ano-Novo lá", explica a médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

Em um artigo intitulado "Lições da história da quarentena, da peste à gripe A", a pesquisadora italiana Eugenia Tognotti, da Universidade de Sássari, lembra que a medida tem sido utilizada como estratégia de saúde pública desde o século 14.

"No novo milênio, a estratégia secular de quarentena está se tornando um componente poderoso da resposta da saúde pública às doenças infecciosas emergentes e re-emergentes. Durante o surto de 2003 da [SARS] síndrome respiratória aguda grave, o uso de quarentena, controles de fronteira, rastreamento de contatos e vigilância se mostrou eficaz em conter a ameaça global em pouco mais de três meses."

Ela acrescenta ainda que "durante séculos, essas práticas têm sido a pedra angular das respostas organizadas aos surtos de doenças infecciosas".

"No entanto, o uso de quarentena e outras medidas para o controle de doenças epidêmicas sempre foi controverso, porque tais estratégias levantam questões políticas, éticas e socioeconômicas e exigem um equilíbrio cuidadoso entre o interesse público e os direitos individuais. Em um mundo globalizado que está se tornando cada vez mais vulnerável a doenças transmissíveis".

Vírus chega aos EUA e Europa

O infectologista João Prats, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, acrescenta que a medida é extrema, gera sofrimento à população local, mas é uma ação importante.

"Hoje, se você olhar o mapa de voos ao redor do mundo, se uma pessoa fica doente em determinada localidade, é possível que a doença se espalhe rapidamente. A quarentena tem eficácia, mas prejudica a vida de uma monte de gente que não pode viajar", afirma

Antes do fechamento temporário, o aeroporto internacional de Wuhan tinha voos para mais de uma dezena de cidades internacionais — Tóquio, Osaka e Nagoya (Japão), Cingapura, Kuala Lumpur (Malásia), Seul (Coreia do Sul), Bangkok e Phuket (Tailândia), Nova York e São Francisco (Estados Unidos), Sydney (Austrália), Roma (Itália) e Paris (França).

Pessoas que vivem em Wuhan ou que viajaram para a cidade recentemente adoeceram em outros países. Foram confirmados casos exportados da doença nos Estados Unidos, França, Tailândia, Vietinã, Japão e Coreia do Sul. 

Rosana reforça que o uso da máscara "não é suficiente para bloquear um surto como este".

Já o infectologista da BP acrescenta que "a maioria dos vírus têm uma capacidade grande de passar principalmente por contato, por superfície. "Se você não lavar as mãos, não adianta muito usar a máscara."

A quarentena, acrescenta a médica do Instituto Emílio Ribas, é necessária até que as autoridades consigam entender mais sobre o novo vírus.

"É preciso saber qual é a taxa de ataque desse vírus. Se você colocasse uma pessoa infectada em uma sala com dez pessoas, quantas iriam se infectar? Se for uma, a taxa de ataque é de 10%. A do sarampo, por exemplo, é de 90%."

Falta-se também da transmissão sustentada desse tipo específico de vírus. Os coronavírus, em surtos anteriores, não se espalhavam fora da área de origem com tanta facilidade.

"Não vimos ainda transmissão de pessoa para pessoa fora daquela localidade", observa Rosana.

Nesta semana, a OMS (Organização Mundial da Saúde) entendeu que o surto ainda não representa uma emergência global, mas reforçou que é motivo de alerta dentro da China. 

O que é o coronavírus
Coronavírus provocam problemas respiratórios. Foto: Divulgação/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA

 

O coronavírus descoberto na China (nomeado de 2019-nCoV) faz parte de uma família conhecida, na qual as mutações são muito comuns.

Em geral, eles provocam infecções respiratórias leves, semelhantes a uma gripe.

Os tipos mais comuns nos humanos são: 229E, OC43, NL63, HKU1. Entretanto, desde 2002, surgiram outros dois tipos que desencadearam surtos semelhantes ao atual.

O SARS-CoV, que provoca a síndrome respiratória aguda grave, apareceu na China, entre 2002 e 2003, e se espalhou para outros países. Foram cerca de 8.000 infectados e 800 mortes.

Em 2012, teve início na Arábia Saudita um surto de outro coronavírus, o MERS-CoV, que causa a síndrome respiratória do Oriente Médio, doença que afetou em torno de 2.200 pessoas e matou 790 pessoas.

Até o momento, acredita-se que o novo coronavírus seja menos letal que os dois tipos que causaram esses surtos recentes.

Assim como o SARS e o MERS, a suspeita é que o vírus tenha sido transmitido inicialmente de animal para humano e sofrido mutações, que permitiram a transmissão entre pessoas.

Os primeiros casos ocorreram em pessoas que frequentavam um mercado de frutos do mar e de animais vivos em Wuhan.

 

Fernando Mellis/R7

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