Empresas europeias condicionam investimento e compra no Brasil a fim do desmatamento
Terça-feira, 10 de Dezembro de 2019    16h59

Empresas europeias condicionam investimento e compra no Brasil a fim do desmatamento

Preocupação do grupo é que os contínuos aumentos da produção de soja possam colocar ainda mais em risco a maior floresta do mundo

Fonte: Redação

 

LONDRES - Um grupo de 87 companhias europeias, que juntas administram ativos superiores a 2,5 bilhões de libras, escreveu uma carta para o governo brasileiro pedindo a interrupção do desmatamento na Amazônia para a produção de soja. Entre elas estão alguns dos maiores produtores de alimentos, gestores de ativos e redes de supermercados do continente, como Tesco, Aldi, Asda e Carrefour. O documento pede a extensão da moratória da soja na Amazônia (ASM, na sigla em inglês), acordo assinado em 2006 pelas empresas para impedir o uso de novas terras para a produção de commodity, que é usada como alimento para humanos e é matéria-prima para ração de gado.

"Queremos poder continuar a buscar ou investir na indústria brasileira de soja, mas se a ASM não for mantida, isso colocará em risco nossos negócios com a soja brasileira", destaca a carta, à qual o Broadcast teve acesso, e que foi coordenada pela Iniciativa de Risco e Retorno de Investimento em Animais Agrícolas.

A maior preocupação do grupo é de que os contínuos aumentos da produção de soja possam colocar ainda mais em risco a maior floresta do mundo. Nesta terça-feira, 10, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou novas estimativas para a produção da oleaginosa. Se os números da entidade forem confirmados, no início de 2020 a oferta brasileira de soja superará pela primeira vez a norte-americana - a produção dos Estados Unidos é afetada pela guerra comercial com a China e também por questões climáticas.

Bolsonaro x Macron

Por causa do avanço agrícola sobre áreas nativas, o Brasil tem sido foco de observação internacional e, com os incêndios na Amazônia em agosto, o País ficou ainda mais na berlinda. O assunto acabou indo parar no grupo das sete maiores economias do globo (G-7) e criando um mal-estar entre os presidentes Jair Bolsonaro e o francês Emmanuel Macron. A floresta também é um dos pontos de maior discussão atualmente na COP-25, que ocorre em Madri, na Espanha, pois é vista como uma ferramenta vital para equalizar as emissões de carbono. E sua preservação, como uma arma para a continuação da humanidade.

Atuações como a da AMS pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), no entanto, são elogiadas no exterior. A entidade afirma que vem renovando a AMS e que conta com o apoio de Bolsonaro para a tarefa, ainda que o presidente não esconda sua avaliação de que a Amazônia tenha de ser um local para desenvolvimento econômico do País. Havia também a previsão de que no mês passado fosse realizado, em Londres, o lançamento internacional da moratória da soja para o cerrado pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), com a presença do príncipe Charles, mas o evento acabou sendo cancelado.

Agronegócio na amazônia segue no foco do comércio global, sobretudo nos países europeus, que reforçam a exigência de produção sustentável Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 13/10/2015

 

"O objetivo da carta foi o de assegurar aos nossos membros que a moratória da Amazônia não vai acabar", explicou ao Broadcast a consultora de políticas de sustentabilidade Leah Riley Brown, do Consórcio Britânico de Varejo (BRC, na sigla em inglês e que reúne 70% do setor no Reino Unido). O documento foi enviado no dia 2 para o embaixador do Brasil em Londres, Fred Arruda. "Queremos ter a resposta segura do governo brasileiro de que a aceleração do desmatamento na Amazônia não vai continuar", continuou.

A resposta do embaixador foi dada dois dias depois ao grupo, sendo considerada "muito rápida". No retorno, Arruda informou que dividiu as preocupações dos signatários com autoridades domésticas e salientou que o Brasil desenvolveu uma estrutura legal, além de políticas concretas, para mapear a produção e garantir a proteção da vegetação nativa, que cobre 66% do território nacional. "No Brasil, todos os níveis de governo e a sociedade como um todo compartilham o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal e promover cadeias de suprimento sustentáveis", explicou.

O grupo ficou satisfeito com o fato de o embaixador ter dito que levaria a questão às autoridades brasileiras, mas não mencionou quais, segundo Leah. O Broadcast apurou que o documento foi enviado para representantes dos ministérios de Relações Exteriores e de Agricultura, além de associações do setor privado. "Como representantes de grandes varejistas, queremos trabalhar juntos nessa questão", afirmou a consultora do BRC.

Futuro desconhecido

Sobre as relações comerciais futuras com o Brasil, Leah salientou que apenas depois de o Brexit (como é chamada a saída do Reino Unido da União Europeia) ser realmente colocado em prática, ainda que não se saiba até o momento se será uma retirada ordenada ou sem acordo entre as partes, é que se saberá como as negociações poderão se dar. "Isso, por enquanto, é algo desconhecido. No BRC, trabalhamos de forma estreita com o governo para mostrar o posicionamento dos varejistas e ter certeza de que estão fazendo as coisas da forma certa,", disse. Da mesma forma, ela afirmou que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia também está em suspenso no caso britânico porque ainda não se sabe o rumo do Reino Unido dentro do bloco.

Além das empresas citadas acima, também assinaram a carta ao governo brasileiro redes de supermercados como Sainsbury, Islândia, Marks & Spencer, Waitrose e Morrisons; grandes produtoras de alimentos, como a Mars; e as gestoras de ativos holandesa Robeco e BMO Global Asset, entre outras.

Célia Froufe/Estadão

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